Vamos começar por um consenso: a imagem que vemos é negativa. Muito negativa. E, se pudermos, devemos evitá-la. Mas será que não há outro olhar possível? Naquela lixeira, há quem queira limpar. Há materiais recicláveis. E, sejamos honestos: quem de nós nunca atirou fora algo ainda útil? Um par de meias com um furo, uma garrafa que podia ter uma segunda vida?
Agora, imagine que decide agir. Compra uma passagem, viaja até aquele país, chega à lixeira com uma pá e uma vassoura. O gesto é louvável — mas, por si só, é como não fazer nada. Tem valor simbólico. Mas resolver aquilo exige muito mais: políticas, mobilização, esforço coletivo. É um problema complexo, que não se resolve com boa vontade isolada.
É exatamente isso que acontece com as redes sociais. São um aterro de informação: distorções, desinformação, ruído. Dominar essa fera parece impossível. E o pior? Exige uma responsabilidade que raramente vemos: cultural, ética, epistémica. Onde está o cuidado com a verdade? Com o que se partilha? Com a forma como se partilha?
Na lixeira física, o preço é a poluição, a degradação ambiental, a perda de recursos. Nas redes, o custo é social e político: a impossibilidade do diálogo, a erosão da confiança, a impunidade do engano. Quando o acumular de lixo substitui a limpeza, pagamos com décadas de retrocesso. E recuperar, mesmo parcialmente, exige esforço que ainda mal começamos a imaginar.

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