Na lista que elaborei dos melhores discos do ano passado, incluí o dos norte americanos, Daughters, You Won't Get What You Want. Na altura o disco pareceu-me suficientemente interessante para constar do meu best of do ano, mas não me parecia um disco especial. A produção soava borrada o que estragava a sonoridade. Entretanto, mais tarde, peguei de novo no disco e comecei a vislumbrar-lhe todo o poder musical que ali habita. Os bons discos são muitas vezes assim, exigem uma relação que leva o seu tempo até se estabelecer alguma solidez, até que se compreenda minimamente o seu íntimo. Há discos bons sem grande intimidade. Mas não é este o caso. Os Daughters conseguiram uma obra notável, uma espécie de cruzamento entre os melhores Swans de Michael Gira, a depressão de Ian Curtis nos Joy Division e uma energia mais próxima do punk. Um amigo já me tinha avisado do que aqui havia e, lá está, na altura não me tinha ainda entusiasmado com a peça. Som duro, muito forte mesmo.
Este ano ouvi muitos e bons discos. Mas a minha lista é talvez aquela que nos últimos anos mais discos com grande expressão comercial inclui. Talvez isto se entenda se ao mesmo tempo eu fizer o exercício de sempre, o de tentar explicar os critérios subjacentes às escolhas dos melhores discos do ano. Há um critério que mantenho firme. Mesmo não sendo os melhores discos, alguns dos que aqui incluo acabaram por ser aqueles que mais ouvi. Provavelmente se eu comprasse a Wire mensalmente os filtros seriam outros e se tivesse mais tempo dedicado também faria outras escolhas. Contudo os discos que escolhi procurei que fossem mesmo bons. Mas há aqui outro fator que acabou por influenciar. Ouvi alguns discos em vinil, isto porque 2023 foi o ano que completei meio século e a minha família ofereceu-me um gira-discos, aparelho que já não tinha nem usava há muitos anos. E alguns dos discos foram mesmo aqueles que encontrei quando fui à única loja que vende discos de vinil (que eu conheça) na cidade
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