Num destes dias participei numa “conversa” de facebook na qual se discutia o valor artístico da figura de Sid Vicious. Não defendi uma posição relativamente ao assunto. Antes preferi “destruir” questionando uma outra teoria, a que defendia que Vicious não teria passado de um pobre coitado, a fazer tristes figuras e que, em via disso, nunca poderia ter qualquer valor artístico. E questionei num sentido apenas: para termos uma qualquer consideração sobre se Vicious é ou não um artista, ou ele próprio, feito obra de arte, temos de considerar pelo menos alguns critérios sobre que propriedades mantém uma obra para ser distinta das outras e, então, ser considerada de arte. Ora, nas discussões comuns é aqui que a porca torce o rabo, pois em regra as pessoas nunca pensaram em tais coisas e na maioria das vezes nem sequer pensaram que coisas como “propriedades da arte” podem – e até devem – ser pensadas e discutidas.
Mesmo assim, algumas das intuições que muitas vezes temos sobre o que é arte até podem constituir interessantes propriedades. Vicious nunca foi um músico tecnicamente bom. Diria até que é tecnicamente muito mau. Há vários relatos que ele não sabia mesmo tocar. A maioria das vezes Vicious estava pedrado ou alcoolizado. Mesmo assim recordo já ter lido relatos que quando queria aprender era um exímio trabalhador. Se o foi nunca o conseguiu mostrar no seu trabalho. Mas é inegável que Vicious era uma figura potente para o propósito de uma banda como os Pistols. E os Pistols nunca viveram propriamente das suas qualidades musicais. Aquele grito era importante naquela altura. E foram os Pistols que assumiram a proa. Nem sequer foram os músicos mais aplicados, mas isso pouco importa para a avaliação que deles podemos fazer. Eles foram o urinol no seio da cultura pop inglesa daquela altura. Deram o murro na mesa que era preciso dar, deixaram as pessoas a pensar e conseguiram fazê-lo não tanto pela elaboração do seu trabalho, mas mais pela atitude e comportamento. E esse é o valor artístico, creio, dos Pistols. Sid Vicious completava assim muito bem o cenário. Os Pistols nunca foram para durar tal como Vicious não podia durar muito tempo. Os gritos acontecem, explodem e desaparecem. Depois deles fica tudo igual outra vez. Ou talvez não. Os Pistols precisavam mesmo de ser assim para terem qualidades artísticas. Precisavam de dar um murro na mesa. E foi a única coisa que souberam fazer e a única que precisávamos para que o mundo da música desse mais uma cambalhota. Tal como a fonte do Duchamp.
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