Li esta frase escrita num teste por um miúdo de 15 anos de idade: "A filosofia é um estudo a priori porque é de prioridades". Ora bem, isto pode refletir falta de estudo. Mas também qualquer aluno "marrão" podia saber isto sem, no entanto, ter grande capacidade de abstração. Para tal basta decorar. Mas é exatamente este tipo de respostas que prototipiza o aluno médio que chega ao 10º ano: ou é aquele que decora, ou então aquele que não decora. Como é que sei isto? Basta colocar num teste uma questão que exige maior abstração e compreensão. Com 15 anos poucos lá chegam. Se não chegam são chumbados e assim perdem a oportunidade de algum dia lá chegarem. É isto que se pretende? Obviamente ninguém de bom senso aceita tal ideia. Por isso mesmo há anos que defendo que os programas de ensino estão mal desenhados. Eles estão desenhados desta forma: para cada 10 páginas de conteúdos, apresentam meia página de estratégias. Ora, eu proponho que sejam desenhados exatamente ao contrário: para cada 10 páginas de estratégias, apenas meia página de conteúdos. É que os miúdos chegam sem capacidade de abstração treinada, não porque não a tenham, mas porque pura e simplesmente nunca foi treinada e depois exigem-lha como se algum dia tivesse sido treinada. Isto é um erro, um embuste. Pior que a capacidade de abstração destreinada é ser adulto e teimosamente persistir num erro sistemático durante décadas, que atira para o lado pessoas que pura e simplesmente precisam da escola para treinar estas competências.
1. Como chegamos hoje à música Há já alguns anos que os “discos do ano” deixaram de ser, necessariamente, os melhores discos do ano. Isso deve-se às novas formas de descoberta musical. Antes do streaming e da internet massificada, ouvia-se o que cabia numa casa comum de referências: a rádio, alguns jornalistas, amigos próximos. Havia filtros claros. Hoje o filtro é o algoritmo. E, embora nada tenha contra tecnologia, a verdade é que o algoritmo nunca acertou comigo. Já passei pelo Tidal, Spotify e, mais recentemente, Apple Music. Nenhum deles me levou aos discos que realmente acabei por mais apreciar. Continuo a chegar à música através de pesquisa intensa — por vezes quase desesperada — e graças a algumas amizades que resistem nesta troca de referências, como resistem ainda o Ípsilon e, sobretudo, a ultra-resiliente Wire. Este preâmbulo importa porque, como acontece todos os anos, no início de 2026 descobrirei excelentes discos de 2025 que ficaram de fora. O que vem a seguir é simplesm...

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