Cresci com boa gente a falar-me dos Doors ou dos Led Zepplin. Tive essa sorte. Com efeito sofri os meus desvios, pois nem uns nem outros me fizeram morrer de amor. Obviamente fui descobrindo coisas antigas que me preenchiam mais o prazer de ouvir música. E, dessa época, antes até, os Velvet Underground são a minha grande referência. Para além da aliança com o artista plástico, Andy Warhol, na famosa Factory, os Velvet ainda hoje soam com muita frescura, como se tivessem gravado ontem. Pela primeira vez introduziam elementos como a distorção das guitarras nas canções, assim como traços pop com a incontornável beleza da voz de Nico, uma modelo que sabia cantar, e acabou a vida numa queda num passeio de bicicleta. Mas esta frescura, jamais repetida mas muito marcante para gerações de músicos e amantes de música, não aconteceu por acaso. Havia ali mais ingredientes, como a formação clássica de John Cale (que a solo nos deu uma carreira brilhante que ainda dura) ou a formação rock de Lou Reed (que também nos deu uma carreira a solo brilhante, embora já tenha falecido). De facto, não conheço nada que se lhes compare e é a minha grande referência. Atrás deles, talvez mesmo só os blues dos afroamericanos. E depois deles conheci muitos outros dos quais devo destacar os Love, MC5 ou Stooges de Iggy Pop. Não fui tão influenciado por David Bowie pois a pop mais esclarecida dele não me seduziu durante anos a fio. E hoje continua a não seduzir por aí além, embora perceba a heresia que estou. escrever. paciência. Obviamente quando comecei a ouvir música, as bandas mais marcantes acabaram por ser os Sonic Youth, os Dinossaur Jr ou os Spaceman 3. Muito mais que os Cure ou os Smiths, que também gostava. E, claro, a música mais depressiva dos Joy Division, que ainda é um dos maiores monumentos de beleza musical, os Echo & the Bunnyman ou os The Sound de Adrian Borland, que foram um poço de sentimentos cantados. O punk veio mais tarde e sempre gostei mais dos caminhos que o punk abriu do que propriamente de música punk. O punk estará para a música (quase todas as formas de expressão musical) como o urinol do Duchamp está para a Arte. Talvez ninguém se detenha muito tempo a contemplar a fonte do Duchamp, mas muita gente sabe que o mundo da arte não seria a mesma coisa sem essa obra. E assim é o punk. Atualmente encontro algumas pessoas bem informadas musicalmente a defender que os tempos têm sido de marasmo. Talvez. Mas talvez se eu tivesse apenas 15 anos e ainda não tivesse um disco rígido de não sei quantos terabytes de música na cabeça e andava aí maluco de todo com os Fountains DC ou os Idles. Não sei bem responder a isso... Ou provavelmente a inovação em determinadas correntes musicais seja coisa de acontecer uma vez na vida ou de 200 em 200 anos. E até lá, eu vou ficando com a música dos Velvet Underground. e que bem servido estou
Este ano ouvi muitos e bons discos. Mas a minha lista é talvez aquela que nos últimos anos mais discos com grande expressão comercial inclui. Talvez isto se entenda se ao mesmo tempo eu fizer o exercício de sempre, o de tentar explicar os critérios subjacentes às escolhas dos melhores discos do ano. Há um critério que mantenho firme. Mesmo não sendo os melhores discos, alguns dos que aqui incluo acabaram por ser aqueles que mais ouvi. Provavelmente se eu comprasse a Wire mensalmente os filtros seriam outros e se tivesse mais tempo dedicado também faria outras escolhas. Contudo os discos que escolhi procurei que fossem mesmo bons. Mas há aqui outro fator que acabou por influenciar. Ouvi alguns discos em vinil, isto porque 2023 foi o ano que completei meio século e a minha família ofereceu-me um gira-discos, aparelho que já não tinha nem usava há muitos anos. E alguns dos discos foram mesmo aqueles que encontrei quando fui à única loja que vende discos de vinil (que eu conheça) na cidade
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