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Quando Sísifo vai à escola


Em várias passagens dos diálogos de Platão, Sócrates parece indicar que a opinião é assim como que meio caminho entre a ignorância e o saber. Meio caminho porque lhe falta algo que no saber não falta e que, claro, a ignorância não tem. Estou a falar da justificação. É assim que eu posso ter a opinião (crença) que a terra está em movimento sem qualquer justificação e acertar em cheio sem que tal constitua conhecimento. É assim talvez que muitos alunos respondem bem a testes sem saber muito bem a matéria, pois nunca pensaram nela, nem a sabem justificar. Ou seja, podem ainda assim estar na ignorância e serem bons alunos. É que, se não erro a interpretar as palavras de Sócrates, saber implica justificar. E justificar implica uma série de outros conhecimentos que a mera crença (opinião) não exige. Mas é curioso observar como é que o ensino da era capitalista privilegia tanto este meio caminho entre a ignorância e o saber, exatamente porque a escola está transformada num mecanismo de acesso ao trabalho por meio da competição. E quando o saber está ao serviço da competição precisa de unidades para o medir. Ora, é mais fácil medir crenças do que justificações, pois medir justificações além de ser altamente complexo (exige tempo, investigação, criatividade, etc...), não seria ajustável a um sistema métrico que visa somente o acesso a melhores profissões com melhores benefícios sociais.
   

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