Nunca morri de amores pela música dos canadianos Arcade Fire. E nunca deixei de os ouvir. Quer dizer, comecei tarde, pois não liguei grande coisa a Funeral, o disco de estreia. Depois, porque alguém meu conhecido lá foi insistindo comecei a ouvir e, devagarinho comecei a gostar. Mas isto jamais aconteceu nos discos seguintes da banda. Afinal, deixou de ser uma música exigente para lhe captar os pormenores e os contornos. Ou seja, os AF são para mim uma banda assim-assim o que é suficiente para os ouvir. Já comecei lentamente a espreitar o novo disco. E já percebi que há material suficiente para que os AF continuem para mim com o estatuto de assim-assim. Mas também é verdade que estou sempre a ver quando me desiludem e tal ainda não aconteceu. Por isso “we” é o melhor disco assim-assim que ouvi deste ano até agora.
1. Como chegamos hoje à música Há já alguns anos que os “discos do ano” deixaram de ser, necessariamente, os melhores discos do ano. Isso deve-se às novas formas de descoberta musical. Antes do streaming e da internet massificada, ouvia-se o que cabia numa casa comum de referências: a rádio, alguns jornalistas, amigos próximos. Havia filtros claros. Hoje o filtro é o algoritmo. E, embora nada tenha contra tecnologia, a verdade é que o algoritmo nunca acertou comigo. Já passei pelo Tidal, Spotify e, mais recentemente, Apple Music. Nenhum deles me levou aos discos que realmente acabei por mais apreciar. Continuo a chegar à música através de pesquisa intensa — por vezes quase desesperada — e graças a algumas amizades que resistem nesta troca de referências, como resistem ainda o Ípsilon e, sobretudo, a ultra-resiliente Wire. Este preâmbulo importa porque, como acontece todos os anos, no início de 2026 descobrirei excelentes discos de 2025 que ficaram de fora. O que vem a seguir é simplesm...


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