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2023, um ano mais pop! Ou nem por isso...


Este ano ouvi muitos e bons discos. Mas a minha lista é talvez aquela que nos últimos anos mais discos com grande expressão comercial inclui. Talvez isto se entenda se ao mesmo tempo eu fizer o exercício de sempre, o de tentar explicar os critérios subjacentes às escolhas dos melhores discos do ano. Há um critério que mantenho firme. Mesmo não sendo os melhores discos, alguns dos que aqui incluo acabaram por ser aqueles que mais ouvi. Provavelmente se eu comprasse a Wire mensalmente os filtros seriam outros e se tivesse mais tempo dedicado também faria outras escolhas. Contudo os discos que escolhi procurei que fossem mesmo bons. Mas há aqui outro fator que acabou por influenciar. Ouvi alguns discos em vinil, isto porque 2023 foi o ano que completei meio século e a minha família ofereceu-me um gira-discos, aparelho que já não tinha nem usava há muitos anos. E alguns dos discos foram mesmo aqueles que encontrei quando fui à única loja que vende discos de vinil (que eu conheça) na cidade onde vivo que é a Fnac. E comprei-os pelo impulso de os ter à mão e pelo desejo de os ouvir em vinil. Aconteceu isso com o disco dos Blur, embora eu quisesse mesmo incluí-lo no meu best of do ano. No entanto o disco da Lana Del Rey já estava encostado no streaming fora dos meus favoritos e acabou por regressar e ocupar um lugar por via do vinil. Isto é engraçado pois ouvir música é uma experiência e acabou por ser ainda mais rica com o meu regresso ao vinil, mesmo que a carteira se tenha ressentido. Depois durante algumas semanas tive em mente que este ano reduziria a minha lista apenas a 10 discos. Honestamente é uma tarefa dura e não consigo. Procurei na lista incluir algumas descobertas como o Desire Marea ou os Model/Actriz. E este ano consegui meter 2 discos feitos em Portugal, como o do Legendary Tiger Man e Mão Morta. E haveria espaço para mais alguns se a lista fosse maior uma vez que, ao contrário de outros anos, este ano ouvi mais música feita em Portugal. Não é para mim um imperativo que seja feita em Portugal, mas não deixa de ser revelador que dentro de fronteiras há coisas a acontecer ao nível do que pensamos muitas vezes serem os grandes centros criativos do mundo. Há outros discos que ficam de fora, alguns com maior expressão comercial e outros com maior expressão artística e que não deixaram de ser excelentes companhias este ano, como o dos Italia 90, Metalica, Aroof Aftab, Pere Ubu, Yves Tumor, Black Country New Road, Dave Lombardo, Lonnie Holley, Dry Cleaning, Slowthai, Depeche Mode, P J Harvey, Queens of the Stone Age, Sleaford Mods, King Gizzard & the Lizard Wizard, Godflesh, John Cale, Paus, The Hives, Home is Where, Bizarra Locomotiva, o belíssimo disco dos Explosion in the Sky, a estreia de Grian Chatten, vocalista dos Fountains D C ou Zulu entre muitos outros. E, claro, como acontece todos os anos, ao ver as outras listas das mais variadas publicações, acabo a descobrir discos que não ouvi em 2023 e vou ouvi-los em 2024 e ficaram para sempre fora da minha lista. Já cometi tantas injustiças que já tenho isto como hábito. Felizmente sem prejuízo para os criadores (risos). Mais uma vez o hip-hop foi algo sacrificado, com algumas exceções. Creio que estará a passar por uma fase de exaustão e quase nada de muito excitante para os ouvidos aparece. 

Já em relação aos eleitos, o grupo espanhol Za! Gravou um disco fabuloso, uma mescla de folk com punk, rock, jazz numa fusão hilariante e desconcertante. Mas os portugueses Mão Morta assinam um dos melhores discos da sua carreira, um disco forte e cheio de pormenores estilísticos e sonoros abrindo portas a uma experiência de texto e som bastante imersiva. Os veteranos Yo La Tengo gravaram um belo disco, recheado de canções rock de garagem e sempre com a candura que envolve a sua musica. Ao mesmo tempo que os Slowdive assinam um estrondoso disco, insistindo na fórmula shoegaze e desenterrando-a quando tal não se esperava. A primeira vez que ouvi o disco dos Murder Capital fiquei desiludido. Parecia-me uma reviravolta na estética musical da banda, mais pastelão, mais comercial, menos profundo e intenso. Mas não! Está, sim, mais polido mas nem por isso menos bom. Os Swans não sabem fazer má música e nada se lhes iguala, muito por força e obra de Michael Gira, muito fiel a uma sonoridade que marca a banda. A banda americana Wednesday não entrou nem à primeira, nem à segunda e creio que nem à terceira. Só quando me apercebi da distorção e desconstrução é que vislumbrei o que por ali se ouvia a cheirar a Pavement. E não colou inicialmente por causa da folk dado que não é mesmo um território que eu aprecie por aí além. Mas o disco é muito competente, pop, rock, folk, noise com boas vocalizações e momento de verdadeira catarse. São poucas as canções a terminar com a gritaria de Got Shocked. Mas que bom disco gravaram. Arvo Part sempre foi um dos compositores que aprecio. Sabe usar os silêncios, é capaz de longas e lentas composições atraentes e este disco não foge a essa matriz. Este disco acasala uma vez mais coro e cordas, aqui a contar com a filarmónica da Estónia. 

Quando comecei a ouvir música a sério com os meus 15 anos os Stones entravam na sua fase menos interessante. Foi bem mais tarde que comecei a recuperar os primeiros discos da banda e que lhes ganhei respeito. Mas até aí os Stones eram para mim apenas uma auto contradição, a banda rebelde rock que se vendeu ao sistema. É natural que nunca tenha incluído um disco deles nas minhas listas de melhores do ano pois não me recordo de o terem merecido. Um pouco ainda mais tarde quando li a biografia Life de Keith Richards percebi o quanto de rock and rol e do seu espírito ainda ali andava, mesmo com a faceta mais showbiz de Jagger. Pois este ano os Stones lançam um surpreendente disco de canções rock de baile e merecem figurar na minha lista até porque deve ter sido dos discos que mais ouvi nos últimos dois meses. E, claro, das emergentes novas bandas, os Squid assinam mais um disco brutal. 

 

 

Segue a lista dos 16 melhores de 2023.

 

1.     ZA! – Za! & La TransMegacobla

2.     Swans – The beggar

3.     Yo La Tengo  - this stupid world

4.     Mão Morta – tricot

5.     Slowdive – everything is alive

6.     Blur – the ballad of Darren

7.     Rolling Stones – hackney diamonds 

8.     The Legendary Tiger Man – zeitgeist

9.     Desire Marea – On the romance of Being

10.  Model/Actriz – dogsbody

11.  Squid – O monolith 

12.  Sigur Ros – Atta

13.  Lana Del Rey – did you know that there`s a tunnel under Ocean Blvd

14.  Arvo Part – Tractus

15.  Murder Capital – Gigi`s recovery

16.  Wednesday – Rat Saw God




















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