Muitas vezes ouve-se falar que esta ou aquela disciplina na escola para nada serve. Também é frequente a opinião de que no mundo do trabalho as competências escolares não são as mais relevantes. E, mais radical ainda, se ouve falar que para a ciência e filosofia, as competências que se adquirem na escola não são as mais relevantes. Na verdade, as competências adquiridas na escola, desde tenra idade, são necessárias, mas insuficientes para qualquer atividade que não seja apenas a escola. E isto porque a escola ao desejar impor competências específicas, acaba a não saber lidar com uma circunstância de capital relevância na vida humana, o estilo. Esta é uma imperfeição do sistema com a qual mal sabemos lidar. Pior era a vida sem escola, mesmo com as suas inerentes limitações. Mas não devemos esquecer ao mesmo tempo que a escola passa imenso tempo a avaliar e classificar verdadeiras cagadas. Talvez isso explique que alunos com muitas boas notas nem sempre sejam os melhores nas mais diversas áreas. Isto não querendo menosprezar os alunos com boas notas, pois não se conseguem boas notas fazendo uma coisa essencial, trabalhar. O ponto está mesmo aqui: nem que seja trabalhar para matar o estilo. E o que é que quero dizer com “estilo”? É o modo como cada um consegue compreender o mundo à sua volta. A escola aponta um caminho, mas há muitos caminhos diferentes. Parece certo que ninguém saberá matemática sem passar pela escola (pelo menos serão raros os casos), mas como referia Eugenia Cheng em A Arte da Lógica (Temas e Debates), só conseguiu fazer matemática e prová-la com o sentido da liberdade já na fase do doutoramento. Antes foi só “empinar”. Talvez as coisas possam não se fazer de outra maneira. Talvez seja este o preço da liberdade e a. escola funcione como uma espécie de recruta, aquela primeira fase de teste militar, para deixar passar os que acabarão por estar mais talhados para a liberdade que se exige no conhecimento e no saber. Mas é com esta limitação bastante paradoxal com a qual qualquer professor terá de saber lidar: pode-se estar a matar o estilo.
1. Como chegamos hoje à música Há já alguns anos que os “discos do ano” deixaram de ser, necessariamente, os melhores discos do ano. Isso deve-se às novas formas de descoberta musical. Antes do streaming e da internet massificada, ouvia-se o que cabia numa casa comum de referências: a rádio, alguns jornalistas, amigos próximos. Havia filtros claros. Hoje o filtro é o algoritmo. E, embora nada tenha contra tecnologia, a verdade é que o algoritmo nunca acertou comigo. Já passei pelo Tidal, Spotify e, mais recentemente, Apple Music. Nenhum deles me levou aos discos que realmente acabei por mais apreciar. Continuo a chegar à música através de pesquisa intensa — por vezes quase desesperada — e graças a algumas amizades que resistem nesta troca de referências, como resistem ainda o Ípsilon e, sobretudo, a ultra-resiliente Wire. Este preâmbulo importa porque, como acontece todos os anos, no início de 2026 descobrirei excelentes discos de 2025 que ficaram de fora. O que vem a seguir é simplesm...

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