Muitas vezes ouve-se falar que esta ou aquela disciplina na escola para nada serve. Também é frequente a opinião de que no mundo do trabalho as competências escolares não são as mais relevantes. E, mais radical ainda, se ouve falar que para a ciência e filosofia, as competências que se adquirem na escola não são as mais relevantes. Na verdade, as competências adquiridas na escola, desde tenra idade, são necessárias, mas insuficientes para qualquer atividade que não seja apenas a escola. E isto porque a escola ao desejar impor competências específicas, acaba a não saber lidar com uma circunstância de capital relevância na vida humana, o estilo. Esta é uma imperfeição do sistema com a qual mal sabemos lidar. Pior era a vida sem escola, mesmo com as suas inerentes limitações. Mas não devemos esquecer ao mesmo tempo que a escola passa imenso tempo a avaliar e classificar verdadeiras cagadas. Talvez isso explique que alunos com muitas boas notas nem sempre sejam os melhores nas mais diversas áreas. Isto não querendo menosprezar os alunos com boas notas, pois não se conseguem boas notas fazendo uma coisa essencial, trabalhar. O ponto está mesmo aqui: nem que seja trabalhar para matar o estilo. E o que é que quero dizer com “estilo”? É o modo como cada um consegue compreender o mundo à sua volta. A escola aponta um caminho, mas há muitos caminhos diferentes. Parece certo que ninguém saberá matemática sem passar pela escola (pelo menos serão raros os casos), mas como referia Eugenia Cheng em A Arte da Lógica (Temas e Debates), só conseguiu fazer matemática e prová-la com o sentido da liberdade já na fase do doutoramento. Antes foi só “empinar”. Talvez as coisas possam não se fazer de outra maneira. Talvez seja este o preço da liberdade e a. escola funcione como uma espécie de recruta, aquela primeira fase de teste militar, para deixar passar os que acabarão por estar mais talhados para a liberdade que se exige no conhecimento e no saber. Mas é com esta limitação bastante paradoxal com a qual qualquer professor terá de saber lidar: pode-se estar a matar o estilo.
E eis que nos preparamos para virar mais uma página no calendário anual da música. Podemos fazer listas de tudo, do ano, da década, do semestre. E eu faço mesmo listas de tudo. Mas o ano é um bom marco, talvez até porque a organização das nossas vidas se faz bastante bem de modo anual. E por isso confesso que começo a pensar nesta lista logo em Janeiro, isto para não deixar escapar algum disco para mim relevante, mas que se esqueceu por ter sido publicado nos primeiros meses do ano. Houve tempos em que eu publicava a lista dos melhores do ano. E agora? Acontece que é bastante injusto publicar uma lista dos melhores, até porque os discos que ouvi este ano podem não ser os melhores e muitos melhores terem-me passado ao lado. Por isso passei há uns anos a usar um critério: fazer a lista dos discos que de um modo ou de outro gostei e que foram os que mais companhia me fizeram, ou os que me soaram como mais ousados e criativos. Ocorre que ouço muitos discos que nem sequer aparecem na lista ...
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