Durante muito tempo andei a ler textos que “desancavam” no pós-modernismo. E poucas vezes me apercebi que esses autores pouco mais faziam do que “dividir”. Alguns deles apresentam também uma versão rudimentar do pós-modernismo. Continuo a estar de acordo com a esmagadora maioria deles. De facto, essa cantiga de tudo reduzir a narrativas desconstrucionistas não acarreta consigo, em muitas áreas, desenvolvimentos por aí além interessantes. E no caso da ciência e filosofia o pós-modernismo talvez tenha representado nada mais do que um “atraso de vida”. E eu até concebo que se faça como eu (risos) e se venha para redes sociais impregnar os incautos com discursos relativamente vagos (os únicos quase possíveis de passar no crivo de uma instantânea rede social) acerca da falta de consistência no pós-modernismo. Mas não é à porrada que vamos avançar em terreno produtivo. Por isso meter-nos a pesquisar alguma informação é sempre uma boa ideia. Não para nos alistar numa qualquer corrente ideológica ou filosófica, mas antes para perceber como todo um movimento influenciou as tendências sociais, políticas, económicas e menos as científicas e infelizmente muito as filosóficas. O livro de Stuart Jeffreys apresenta um argumento bastante simples de compreender: o capitalismo consegue absorver qualquer movimento cultural, incluindo o pensamento pós-moderno que se assumiu inicialmente como subversivo e de certa maneira revolucionário, tendo sido o mais facilmente engolido pelos mecanismos capitalistas exatamente porque é muito fácil levar o tiro pela culatra. E deixa marcas. Talvez a distância do tempo ainda não nos permita de todo ler essas marcas e avaliar os seus efeitos. Aqui uma vez mais há quem vaticine que que serão sempre profundamente negativas e outros não pensam assim. No que me respeita creio que o pós-modernismo deixou algumas marcas estéticas interessantes ao mesmo tempo que conseguiu que outras sacrifiquem a arte, a música, a arquitetura, o cinema, etc.… talvez uma banana colada com fita adesiva numa parede ainda seja resultado do espectro pós-moderno, isto só para citar um exemplo do que a parvoíce pode criar. Mas abanar conceitos com urinóis (Duchamp) em galerias de arte ou composições para silêncio (John Cage) pode também adicionar à cultura uma aura de liberdade que por vezes o formalismo tende a castrar. Em termos científicos compreende-se o efeito nefasto do pós-modernismo, a reduzir tudo a narrativas em que exemplos como a defesa do terraplanismo tenta obter estatuto de ciência validada, quando a “validação” a que é sujeita está nos antípodas do que é a ciência. Talvez na política tal ideologia se revele no facto de um qualquer palerma aos gritos, um qualquer negacionista e inventor de tragédias possa ocupar cargos relevantes exatamente com as mesmas medidas do que grandes estadistas, na filosofia o menosprezo pela clareza e raciocínio lógico e consequente em proveito do discurso armadilhado de palavras caras, de uma espécie de terrorismo verbal encantador de almas. Avaliar o pós-modernismo pode implicar tudo, menos o que talvez venha a acontecer: uma avaliação pós-moderna do pós modernismo. Isso é como andar em rodopio em volta da cauda pressupondo algum dia que se pode agarrar a cauda com os dentes.
E eis que nos preparamos para virar mais uma página no calendário anual da música. Podemos fazer listas de tudo, do ano, da década, do semestre. E eu faço mesmo listas de tudo. Mas o ano é um bom marco, talvez até porque a organização das nossas vidas se faz bastante bem de modo anual. E por isso confesso que começo a pensar nesta lista logo em Janeiro, isto para não deixar escapar algum disco para mim relevante, mas que se esqueceu por ter sido publicado nos primeiros meses do ano. Houve tempos em que eu publicava a lista dos melhores do ano. E agora? Acontece que é bastante injusto publicar uma lista dos melhores, até porque os discos que ouvi este ano podem não ser os melhores e muitos melhores terem-me passado ao lado. Por isso passei há uns anos a usar um critério: fazer a lista dos discos que de um modo ou de outro gostei e que foram os que mais companhia me fizeram, ou os que me soaram como mais ousados e criativos. Ocorre que ouço muitos discos que nem sequer aparecem na lista ...
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