Este bem que podia ser o mote artístico para o regresso com mais uma peça de análise social a partir dos sons e da enciclopédia mesmo ali à mão de Kubik, o projeto sonoro e artístico de Victor Afonso, com sede na cidade da Guarda. Neste novo disco, tal como em todos os registos anteriores, há um lastro enorme de imagens sacadas ao cinema. Em sentido figurativo, claro. Mas a arte da samplagem parece ir mais às feiras do cinema do que dos livros ou dos discos, ainda que estas também não fiquem de fora da visita deste novíssimo Circus Mundi Decadens . E antes que me esqueça: a capa do disco reflete copiosamente o seu conteúdo, ou pelo menos o título do disco. Há um palhaço que continua a festejar dentro de uma banheira mesmo ao lado do precipício onde dá azo à sua arte. O disco é todo ele assim. Bem, todo? Ok, há aqui elementos que são registos claramente biográficos, mais percetíveis para quem, como eu, conhece desde sempre o percurso do Victor. Esses elementos são audíveis na enorme qu
Valerá a pena comparar a vida de um artista com a sua obra? Em todos os estilos musicais, mais ou menos eruditos, aparecem artistas em que a sua vida se confunde com a sua obra. Na indústria pop muitas vezes acontece que a vida do artista acaba por ser mais relevante que a sua obra. É verdade que nos anos mais recentes Nick Cave se expõe como nunca, dando entrevistas, publicando livros de entrevistas, nas redes sociais, nos festivais internacionais de música, nos programas de TV, etc. Nick Cave passa a vida a falar de si e os media tem adorado essa exposição. Segue-se que umas boas doses de críticas a cada novo disco acabam por se centrar mais na sua vida do que na sua obra musical. Mas a certo ponto faz sentido que assim seja, pois, a obra de Cave é mesmo um reflexo direto, confirmado pelo próprio, das suas vivências, das suas relações com o mundo espiritual e material, da perda dos dois filhos, da dor e da redenção, da felicidade e da fé. A música aparece assim como o corolário de