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Mensagens

O mundo está a desabar. Mas a festa continua. Senhores e senhoras, meninos e meninas, bem vindos ao circo!

Este bem que podia ser o mote artístico para o regresso com mais uma peça de análise social a partir dos sons e da enciclopédia mesmo ali à mão de Kubik, o projeto sonoro e artístico de Victor Afonso, com sede na cidade da Guarda. Neste novo disco, tal como em todos os registos anteriores, há um lastro enorme de imagens sacadas ao cinema. Em sentido figurativo, claro. Mas a arte da samplagem parece ir mais às feiras do cinema do que dos livros ou dos discos, ainda que estas também não fiquem de fora da visita deste  novíssimo Circus Mundi Decadens . E antes que me esqueça: a capa do disco reflete copiosamente o seu conteúdo, ou pelo menos o título do disco. Há um palhaço que continua a festejar dentro de uma banheira mesmo ao lado do precipício onde dá azo à sua arte. O disco é todo ele assim. Bem, todo? Ok, há aqui elementos que são registos claramente biográficos, mais percetíveis para quem, como eu, conhece desde sempre o percurso do Victor. Esses elementos são audíveis na enorme qu
Mensagens recentes

Até que ponto NIck Cave é um criador único

  Valerá a pena comparar a vida de um artista com a sua obra? Em todos os estilos musicais, mais ou menos eruditos, aparecem artistas em que a sua vida se confunde com a sua obra. Na indústria pop muitas vezes acontece que a vida do artista acaba por ser mais relevante que a sua obra. É verdade que nos anos mais recentes Nick Cave se expõe como nunca, dando entrevistas, publicando livros de entrevistas, nas redes sociais, nos festivais internacionais de música, nos programas de TV, etc. Nick Cave passa a vida a falar de si e os media tem adorado essa exposição. Segue-se que umas boas doses de críticas a cada novo disco acabam por se centrar mais na sua vida do que na sua obra musical. Mas a certo ponto faz sentido que assim seja, pois, a obra de Cave é mesmo um reflexo direto, confirmado pelo próprio, das suas vivências, das suas relações com o mundo espiritual e material, da perda dos dois filhos, da dor e da redenção, da felicidade e da fé. A música aparece assim como o corolário de

A escola e a morte do estilo

Muitas vezes ouve-se falar que esta ou aquela disciplina na escola para nada serve. Também é frequente a opinião de que no mundo do trabalho as competências escolares não são as mais relevantes. E, mais radical ainda, se ouve falar que para a ciência e filosofia, as competências que se adquirem na escola não são as mais relevantes. Na verdade, as competências adquiridas na escola, desde tenra idade, são necessárias, mas insuficientes para qualquer atividade que não seja apenas a escola. E isto porque a escola ao desejar impor competências específicas, acaba a não saber lidar com uma circunstância de capital relevância na vida humana, o estilo. Esta é uma imperfeição do sistema com a qual mal sabemos lidar. Pior era a vida sem escola, mesmo com as suas inerentes limitações. Mas não devemos esquecer ao mesmo tempo que a escola passa imenso tempo a avaliar e classificar verdadeiras cagadas. Talvez isso explique que alunos com muitas boas notas nem sempre sejam os melhores nas mais diversa

As escolhas do João Francisco - os melhores discos de 2023

Este ano ouvi várias músicas e albuns e fiquei a conhecer mais variedades de música.     1-HEROS & VILLAINS- publicado a 2 de dezembro de 2022 por Metro Boomin. Este álbum fica na primeira posição. Foi um dos álbuns que ouvi mais pois as músicas deste são do género hiphop (meu género de música favorito) muito calmo. As composições desta obra tem sempre uma batida tranquila e transmite uma boa  vibe .   2- For All The Dogs- Álbum criado em 6 de outubro deste ano por Drake. Como Drake foi um dos artistas que gostei mais de ouvir este ano é normal que este álbum está no top 4. Gosto das músicas porque transmitem uma vibe calma, tal como no disco do Boomin, mas a forma como ele canta é o que me impressiona mais.   3-Utopia- Criado a 28 de julho deste ano por Travis Scott. Travis também foi um dos artistas que eu ouvi mais, ficando ao lado do Drake. O que eu gostei mais deste álbum foi a maneira das músicas serem bastante animadas e boas para fazer exercício físico. Em algumas músicas c

2023, um ano mais pop! Ou nem por isso...

Este ano ouvi muitos e bons discos. Mas a minha lista é talvez aquela que nos últimos anos mais discos com grande expressão comercial inclui. Talvez isto se entenda se ao mesmo tempo eu fizer o exercício de sempre, o de tentar explicar os critérios subjacentes às escolhas dos melhores discos do ano. Há um critério que mantenho firme. Mesmo não sendo os melhores discos, alguns dos que aqui incluo acabaram por ser aqueles que mais ouvi. Provavelmente se eu comprasse a Wire mensalmente os filtros seriam outros e se tivesse mais tempo dedicado também faria outras escolhas. Contudo os discos que escolhi procurei que fossem mesmo bons. Mas há aqui outro fator que acabou por influenciar. Ouvi alguns discos em vinil, isto porque 2023 foi o ano que completei meio século e a minha família ofereceu-me um gira-discos, aparelho que já não tinha nem usava há muitos anos. E alguns dos discos foram mesmo aqueles que encontrei quando fui à única loja que vende discos de vinil (que eu conheça) na cidade

TECNOLOGIAS, IA E MORALIDADE.

Por vezes deparo-me com observações, quotidianas, que, como quase todas, são erros de análise do senso comum. Não existe uma fronteira muito definida para se perceber quando uma posição (ou opinião) é ou não rigorosa e fundamentada. Claro que existem os casos extremos, mas a zona entre os casos extremos é por vezes cinzenta e extensa. Uma das vantagens de se estudar e especializar é diminuir cada vez mais essa extensão. No caso que aqui me move, penso numa série de comentários acerca da IA. E creio que algumas leituras informadas nos fazem perceber sem grande esforço que a maioria das opiniões sobre a IA são mais baseadas em filmes de ficção científica do que na realidade. A ideia de que as máquinas nos dominarão vende bem (Harari sabe bem disso), mas são, para a atualidade, completamente irrealistas. A IA começa por ser baseada em algoritmos. Tal como as contas de somar também o são. Com efeito há problemas que merecem desde já ser colocados com as atuais tecnologias. Dado o desenvolv

Debilidades epistémicas

De quase tudo o que emitimos opinião, pouco sabemos. Se aceitarmos esse ímpeto racional da douta ignorância será tal uma boa razão para nos mantermos caladinhos? Vamos a alguns exemplos. Falamos de política e pouco conhecemos os bastidores da política. Falamos de educação e pouco sabemos do assunto. E é assim com quase tudo, incluindo, algumas zonas da nossa especialidade. Haverá algum medidor que nos indique a partir do ponto é que podemos falar de um assunto com alguma propriedade? Hans Rosling no seu fabuloso Factfulness dá-nos uma boa pista: devemos sempre procurar basear as nossas posições em dados. Um exemplo. A seguir à pandemia não faltaram vozes a dizer que os alunos tinham regredido anos a fio em termos cognitivos. Mas em que dados se apoiavam essas pessoas, muitas delas professores, para validar tal posição? A resposta óbvia é: em nenhuns. Não houve qualquer estudo revisto que nos pudesse dar essa indicação. Era mera especulação. E como qualquer especulação, pode até acertar