1. Como chegamos hoje à música Há já alguns anos que os “discos do ano” deixaram de ser, necessariamente, os melhores discos do ano. Isso deve-se às novas formas de descoberta musical. Antes do streaming e da internet massificada, ouvia-se o que cabia numa casa comum de referências: a rádio, alguns jornalistas, amigos próximos. Havia filtros claros. Hoje o filtro é o algoritmo. E, embora nada tenha contra tecnologia, a verdade é que o algoritmo nunca acertou comigo. Já passei pelo Tidal, Spotify e, mais recentemente, Apple Music. Nenhum deles me levou aos discos que realmente acabei por mais apreciar. Continuo a chegar à música através de pesquisa intensa — por vezes quase desesperada — e graças a algumas amizades que resistem nesta troca de referências, como resistem ainda o Ípsilon e, sobretudo, a ultra-resiliente Wire. Este preâmbulo importa porque, como acontece todos os anos, no início de 2026 descobrirei excelentes discos de 2025 que ficaram de fora. O que vem a seguir é simplesm...
(uma lixeira a céu aberto) Vamos começar por um consenso: a imagem que vemos é negativa. Muito negativa. E, se pudermos, devemos evitá-la. Mas será que não há outro olhar possível? Naquela lixeira, há quem queira limpar. Há materiais recicláveis. E, sejamos honestos: quem de nós nunca atirou fora algo ainda útil? Um par de meias com um furo, uma garrafa que podia ter uma segunda vida? Agora, imagine que decide agir. Compra uma passagem, viaja até aquele país, chega à lixeira com uma pá e uma vassoura. O gesto é louvável — mas, por si só, é como não fazer nada. Tem valor simbólico. Mas resolver aquilo exige muito mais: políticas, mobilização, esforço coletivo. É um problema complexo, que não se resolve com boa vontade isolada. É exatamente isso que acontece com as redes sociais. São um aterro de informação: distorções, desinformação, ruído. Dominar essa fera parece impossível. E o pior? Exige uma responsabilidade que raramente vemos: cultural, ética, epistémica. Onde está o...